História

Os Irmãos Berto são lembrados em crônica do professor e escritor itatibense Rubens Pântano Filho

Os Flinstones
Não sei se é saudosismo, mas os desenhos animados de hoje me parecem muito ruins quando os comparo aos da minha infância. Esses com monstros e super-heróis orientais eu não consigo assistir; são insuportáveis. Sempre achei muito engraçados, e às vezes até revejo, o Zé Colméia e o Pica-pau. Outro de que também gosto é aquele ambientado na idade da pedra, com as divertidas peripécias de Fred e Barney.

Neste último, o telefone, o carro, o toca-disco, o pequeno dinossauro de estimação e o jogo de boliche são tão inverossímeis quanto gozados. Os jornais e os livros caricaturados no desenho têm, literalmente, um enorme peso de informações. Seria mais trabalhoso ler ou esculpir aqueles tablóides?

As pinturas rupestres são alguns dos reais registros daquele período. Testemunham a remota presença humana no planeta e expressam também o desenho do homem de perpetuar sua existência. Na Antigüidade, escrever em pergaminhos não era tão simples. As multicoloridas canetas Bic não existiam e encontrar um bloco de papiro de 200 páginas devia constituir-se em árduo trabalho.

Há algum tempo, uns três anos mais ou menos, visitei na capital, o parque gráfico de uma editora. É impressionante testemunhar a operação das enormes gráficas, nas quais o papel é colocado de um lado e o livro sai empacotado do outro, sem nenhum contato manual. Cada vez mais, a tecnologia torna as coisas mais simples: aciona-se um equipamento e uma impressora a lazer grava imagens de alta qualidade. Gutemberg, em meados do século XV foi o alemão que inventou a tipografia.

Seu mais importante trabalho é a Bíblia Mazarina que leva este nome por ter pertencido ao cardeal Mazarin, o primeiro exemplar que chamou a atenção dos estudiosos. Desta Bíblia, impressa em tipos góticos e escrita em latim com 42 linhas por página, restam 46 exemplares.

Quando pequeno, meu primeiro contato com o artesanal mundo tipográfico foi na pequena gráfica dos Irmãos Berto, dos quais meu pai sempre foi muito amigo. Nós já a freqüentávamos anteriormente, quando ela ainda pertencia ao Danton. Eu achava agradável aquele aroma de tinta que pairava na atmosfera do pequeno salão situado quase na esquina da Camilo Pires com a Comendador Franco. Era interessante a rotina daquela máquina com alguns cilindros horizontais, que subiam e desciam, sob o comando manual do operador. Primeiro, ele colocava o papel e, logo após, o retirava já impresso. Na época, havia uma dúvida que me intrigava: - Será que o Danton monta as placas com as palavras escritas ao contrário, letra por letra?

Um pouco mais tarde conheci a oficina de artes gráficas do Romildo Prado, sempre com a indispensável presença do Armando Stanziani. A Tribuna foi o famoso jornal produzido com linotipos. Até hoje, tenho guardado alguns exemplares do periódico. Recordo-me também que havia uma terceira gráfica na Quintino Bocaiúva, que pertencia ao Adaleide Sampaio.

Os antigos aparelhos foram substituídos por outros novos e mais modernos. Tanto a gráfica dos Berto, como a dos Prado e a dos Sampaio já foram remodeladas. Ligado às tradições, Seu Romildo e Seu Zequinha é que devem ter se associado, sendo os responsáveis pela produção do "A Folha do Céu". Logo mais, os livros em papel se tornarão obsoletos; as informações serão  transmitidas através da refinada tecnologia computacional. Daqui a milhões de anos, se nossos descendentes vierem a realizar escavações sob uma região de muitas pedras, provavelmente pensarão ter existido aquela dupla do desenho animado. Nos livros e folhetos, petrificados pela ação do tempo, encontrarão a inscrição: Impresso por Irmãos Berto.


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